AHOOOW Irmãos e Irmãs!!
"Meu avô costumava dizer que tudo está interligado entre si e que nada
escapa da trama da vida. Ele costumava me levar para uma abertura da floresta e
deitava-se sob o céu e apontava para os pássaros em pleno vôo e nos dizia que
eles escreviam uma mensagem para nós. "Nenhum pássaro voa em vão. Eles
trazem sempre uma mensagem do lugar onde todos nos encontraremos", dizia
ele num tom de simplicidade, simplicidade dos sábios.
Outras vezes nos colocava em contato com as estrelas e nos contava a origem
delas, suas historias. Fazia isso apontando para elas como um maestro que
comanda uma orquestra.
Confesso que não entendia direito o que ele queria nos dizer, mas o
acompanhava para todos os lugares só para ouvir a poesia presente em sua
maneira simples de nos falar da vida.
Numa certa ocasião ele disse que cada coisa criada está em sintonia com o
criador e que cada ser da natureza, inclusive o homem, precisa compreender que
seu lugar na natureza não é ser o senhor, mas um parceiro, alguém que tem a
missão de manter o mundo equilibrado, em perfeita harmonia para que o mundo
nunca despenque de seu lugar. "Enquanto houver um único pajé sacudindo seu
maracá, haverá sempre a certeza que o mundo estará salvo da destruição". Assim
nos falava nosso velho avô como se fossemos - eu e meus irmãos, primos e amigos
- capazes de entender a força de suas palavras.
Só bem mais tarde, homem adulto, conhecedor de muitas outras culturas, pude
começar a compreender a enormidade daquele conhecimento saído da boca de um
velho que nunca tinha sequer visitado a cidade ao longo de seus mais de 80
anos. Percebi, então, que meu avô era um homem com uma visão muito ampla da
realidade e que nós éramos privilegiados por termos convivido com ele.
Estas lembranças sempre me vêm à mente quando penso na diversidade, na
diferença étnica e social. Penso nisso e me deparo com a compreensão de mundo
dos povos tradicionais. É uma concepção onde tudo está em harmonia com tudo;
tudo está em tudo e cada um é responsável por esta harmonia. É uma concepção
que não exclui nada e não dá toda importância a um único elemento, pois todos
são passageiros de uma mesma realidade, são, portanto, iguais. No entanto, não
se pode pensar que esta igualdade signifique uniformidade. Todos estes
elementos são diferentes entre si, tem uma personalidade própria, uma
identidade própria.
Através de minhas leituras e viagens fui compreendendo, aos poucos, aquilo
que o meu avô dizia sobre a sabedoria que existem em cada um e todos os seres
do planeta. Descobri que não precisa ser xamã ou pajé para chacoalhar o maracá,
basta colocar-se na atitude harmônica com o todo, como se estivéssemos seguindo
o fluxo do rio, que não tem pressa...mas sabe aonde quer chegar. Foi assim que
descobri os sábios orientais; os monges cristãos; as freiras de Madre Teresa;
os mulçumanos; os evangélicos; os pajés da Sibéria, dos Estados Unidos; os Ainu
do Japão, os Pigmeus; os educadores e mestres...descobri que todas estas
pessoas, em qualquer parte do mundo, praticando suas ações buscando o
equilíbrio do universo, estão batendo seu maracá. Entendi, então, a lógica da
teia. Entendi que cada um dos elementos vivos segura uma ponta do fio da vida e
o que fere e machuca a Terra, machuca também a todos nós, os filhos da Terra.
Foi aí que entendei que a diversidade dos povos, das etnias, das raças, dos
pensamentos é imprescindível para colorir a Teia, do mesmo modo que é preciso o
sol e a água para dar forma ao arco-íris."
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